quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Sobre projetos de desenvolvimento da leitura e escrita

SOBRE PROJETOS DE DESENVOLVIMENTO DA LEITURA E ESCRITA
(ou a luta pela formação de leitores-produtores)

Manoel M. de Santana Filho
Prof. de Geografia

Pensar atividades de leitura e escrita parece-nos uma tarefa já intrínseca às atividades escolares. No entanto, há muito mais o que se pensar e fazer a respeito dessa responsabilidade, bem mais complexa do que comumente se pratica. Este texto tem a intenção de provocar o debate a partir de algumas conversas e ideias que ganharam essa sistematização. Havendo interlocução, esperamos alcançar melhor entendimento e mais clareza sobre o nosso trabalho e, claro, cumplicidade e propostas eficazes de ação.

“O aluno fulano não sabe escrever nem ler, estranho que ele tenha passado nas séries anteriores”. Esta frase, tão comum nas salas dos professores, precisa ser ouvida com uma atitude fundamental: espanto! Cultivar o hábito de espantarmo-nos com as falas que revelam a condição dos nossos alunos, e agindo com a necessária reflexão e questionamentos, cumprir com a responsabilidade ético-política de educador.

Outra atitude que nos parece importante é o inconformismo! A constatação e a reflexão quanto às dificuldades dos alunos para a leitura e para a escrita, espera-se, produzam nos profissionais responsáveis por sua educação, intensa mobilização, ação esperançosa e firme propósito de fazer a diferença com seu trabalho e contribuição (ainda que com limitações!). Esse investimento na superação de tais dificuldades/necessidades é uma forma de melhorar os processos de ensino-aprendizagem e, por consequência, buscar o prazer e a satisfação de educar.

Nada de autoflagelo ou ativismo individual! É importante que esse enfrentamento seja um trabalho coletivamente assumido e desenvolvido, senão, corre-se o risco de produzir mais desencanto e solidão, ou de reinventar a roda. Tempo a perder é o que a escola não tem quando se trata de educação para as camadas populares, para quem convive conosco nas escolas públicas.

E interessante observar algumas condições e passos importantes ao iniciar a elaboração de propostas para atividades de leitura e escrita. Vejamos algumas:

- Estabelecer o entendimento do que é LEITURA e ESCRITA. Quais são as distintas conceituações e abordagens; qual das compreensões é mais adequada à realidade e cabe à escola desenvolver?[1]; quais são as formas de realizar a tarefa nas distintas áreas do ensino escolar?
- Reconhecimento do contexto da unidade escolar (as necessidades, as características dos alunos, condições de acesso a material de leitura, contato com as famílias etc.). O que os profissionais da escola têm clareza? O que deve ser objetivo imediato, de médio e de longo prazo?
- Tomar consciência dos recursos e possibilidades da unidade escolar para enfrentar a questão e desenvolver projetos (estrutura, recursos humanos e materiais, apoio das famílias, parcerias e associações possíveis).
- Recolher ideias e propostas dos profissionais da escola com o tema “Projeto de Formação de Leitor e Produtor de Textos”. Pode ser feito reunindo profissionais por turmas, série ou ciclo, conforme o número de professores envolvidos e a organização da escola.
- Procurar, sinceramente, desenvolver projetos temáticos envolvendo diferentes disciplinas e menos por trabalhos isolados. Evitando-se, assim, a sobrecarga de atividades para os alunos, possibilitando o debate entre os profissionais e a integração entre eles, dá-se, ainda, exemplo de trabalho coletivo no ambiente escolar (produção do conhecimento).
- Escapar de avaliações formais do projeto. A produção alcançada deverá, em justa medida, evidenciar o crescimento dos envolvidos.

As ideias propostas não ignoram nosso volume de trabalho e as múltiplas cargas horárias, nem a desesperança que marca boa parte da juventude que encontramos na sala de aula. Há apatia, imobilismo e desesperança também entre professores – o que é mais grave! Talvez por isso, justamente, é que há urgência para que situações como estas sejam enfrentadas bravamente, com a devida radicalidade. Ainda que possa parecer demorado seguir o caminho sinalizado aqui, sendo os professores também leitores, propomos no máximo três reuniões em que cada um traga sua efetiva contribuição já previamente elaborada. Assim, será possível chegar a propostas concretas e viáveis.

Por fim, é fundamental acreditar na possibilidade de a escola formar leitores produtores de textos, quiçá, em múltiplas linguagens e, claro, sujeitos de seus caminhos e escolhas na vida. Uma maneira de trabalharmos pela formação de cidadãos capazes de prescindir das cotas, das avaliações de desempenho ou qualquer benevolência do sistema porque se sabem criadores, portadores de autonomia.

21 de fevereiro de 2003.


[1] No que diz respeito à escola, é importante não esquecer que uma de suas funções importantes é desenvolver habilidades e competências para o domínio do texto escrito, em suas variadas modalidades e estilos, da prática da leitura e da argumentação.

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